Simples Assim


” As Mulheres são fantásticas” , já dizia Drummond

Como pude esquecer? Fiquei encabulada quando li as lindas mensagens das minhas blogueiras no dia dedicado a nós.
Só a correria louca que vivi essa semana justifica. Deixei muita coisa de lado essa semana, só não deixei minhas postagens diárias, pois me dão muito prazer.
Para me desculpar trago hoje uma linda crônica do eterno Drummond que tão retrata o nosso cotidiano. Tão múltiplo e único. Só ele mesmo para ter essa sensibilidade e perceber a riqueza desse trabalho tão silencioso e presente, mas tão essencial que todas nós desempenhamos no nosso dia a dia.
A crônica é antiga, lá pelos idos de 70, mas vejam como ela é atual.
Mesmo com atraso, recebam meu abraço e os parabéns pelo importante e imprescindível papel que ocupamos no mundo.

As mulheres são fantásticas!

A mãe e o pai estavam assistindo televisão quando a mãe disse:
Estou cansada e já é tarde,vou me deitar !!!
Foi à cozinha fazer os sanduíches para o lanche do dia seguinte na escola, passou água nas vasilhas das pipocas, tirou a carne do freezer para o jantar do dia seguinte, confirmou se as caixas de cereais estavam vazias, encheu o açucareiro, pôs tigelas e talheres na mesa e preparou a cafeteira do café para estar pronta para ligar no dia seguinte.
Pôs ainda umas roupas na máquina de lavar, passou uma camisa a ferro, pregou um botão que estava caindo. Guardou umas peças de jogos que ficaram em cima da mesa, e pôs o telefone no lugar. Regou as plantas, despejou o lixo, e pendurou uma toalha para secar. Bocejou, espreguiçou-se e foi para o quarto.
Parou ainda no escritório e escreveu uma nota para a professora do filho, pôs num envelope junto com o dinheiro para pagamento de uma visita de estudo e apanhou um caderno que estava caído debaixo da cadeira. Assinou um cartão de aniversário para uma amiga, selou o envelope, e fez uma pequena lista para o supermercado, colocou ambos perto da carteira.
Nessa altura, o pai disse lá da sala:
– Pensei que você tinha ido se deitar.
– Estou a caminho – respondeu ela.
Pôs água na tigela do cão e chamou o gato para dentro de casa. Certificou-se de que as portas estavam fechadas. Passou pelo quarto de cada filho, apagou a luz do corredor, pendurou uma camisa, atirou umas meias para o cesto de roupa suja e conversou um bocadinho com o mais velho que ainda estava estudando no quarto.
 Já no quarto, acertou o despertador, preparou a roupa para o dia seguinte e arrumou os sapatos. Depois lavou o rosto, passou creme, escovou os dentes e acertou uma unha quebrada.
A essa altura o pai desligou a televisão e disse:
-Vou me deitar.
E foi. Sem mais nada.
(Carlos Drummond de Andrade)

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Lylia Diogenes

Jornalista, blogueira, mãe, esposa, filha, sogra, amiga, irmã. Leitora voraz, curiosa, destemida, alegre, sensível, apaixonada pela vida, por animais, por viagens, por comidas gostosas, por boas bebidas, frio, silêncio, natureza, paz. Assim sou eu, do jeitinho que me vejo. Múltipla na unidade e acreditando, sempre, que o melhor está por vir.

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